domingo, 31 de outubro de 2010

Eu era... já não sou mais

Eu era aquele pequeno verso escrito no seu caderno,
aquele sorriso que te recepcionava na escola,
eu era aquela lágrima de luto,
aquele singelo  pedaço de papel que você escrevia músicas;
Eu era a chuva no fim da tarde de domingo, 
aquele sonho que te fez acordar a noite,
eu era aquele acorde de violão na porta da igreja,
aquela nuvem que você quis descrever;
Eu era aquela parte de você que você esqueceu, 
aquele tom de vermelho por de trás das montanhas,
eu era aquele relâmpago na tempestade do norte,
aquela sombra a porta de sua casa;
Eu era aquela brisa que tocava seu rosto,
aquele aroma que invadia tudo ao seu redor,
eu era aquele poema de letras temidas em cima da sua mesa,
aquele ser que vivia por você e para você...


Eu era... 
mas já não sou mais...

sábado, 9 de outubro de 2010

Estranho cliente

Todas as tardes sentava-se na mesma mesa, pedia o mesmo cardápio: um café expresso sem açúcar e bolachas com gotas de chocolate e lá se iam horas sentado numa cadeira marfim olhando a garçonete. As vezes pedia que ela sentasse com ele e nada dissesse, a presença dela já completava o vazio daquele homem. Pouco sabia sobre ele, seu nome, Wesley, trabalhava numa empresa de desenvolvimento de software, um típico homem cansado da mesmice que a vida urbana poderia lhe oferecer. Sempre pensara que ganhar dinheiro fosse o que queria da vida, mas não era, em seus anos de experiência já lhe surgira escassos fios grisalhos no cabelo de tamanho médio que cultivava desde a sua época adolescente a qual gostava de sentar-se em frente do computador e conversar com desconhecidos.Perdera o entusiasmo de vida mas nunca o olhar inquieto que era sua marca, aquilo era um sinal de que ainda havia esperança dentro daquela existência.
Naquela tarde de sexta ele estava diferente, não sabiam o que, mas ele se encontrava num estado de espírito diferente do que os funcionários daquele Café que conviviam com ele há dois anos já haviam vivenciado. A garçonete estava em pé atrás do balcão servindo café a um velho, Wesley então, passou por trás do balcão, puxou-a até o meio do Café, pegou-lhe as mãos gélidas da moça e disse que havia deixado o trabalho e que havia conseguido um negócio melhor no exterior e queria leva-la com ele. A moça então deixou-lhe cair uma lágrima escorria pelo rosto, soltou um pequeno suspiro abafado dentro daquele peito amargurado e a abraçou-o. Acho que aquele era o "Sim! Eu vou com você!" que ele tanto esperava.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Peça Teatral: Sobe e desce e só sobe mais tarde!

Personagens: Moça, Conquistador, Velhinha, Menino, Ladra e Velhinho

De cada vez um personagem entra como se fossem entrando a cada andar que o elevador passasse, estabelecendo esta ordem: Conquistador, Velhinha, Velho, Moça, Menino e depois o ladrão que entra correndo com uma mochila cheia de coisas roubadas. Quando ele entra, todos com cara de assustados dizem: “Nossa!”. Enquanto isto o Conquistador olha para a bunda na moça e diz um “Nossa!” totalmente diferente admirando a bunda da moça. O Menino olha para a Ladra:
Menino: Minha mãe disse que é errado ser ladrão!
Ladra: Meu parceiro diz que é errado ter um menino, diz aí filhão!
Nas costas da Ladra o bebê dela se encontra amarrado a ela, o bebê no caso boneco, tem gorro de Corinthiano, tatuagem no braço, barba e na mão tem uma faquinha.
Menino: Você traz seu filho quando faz um assalto?
Ladra: Claro, educação se dá com exemplo, acabei de ensiná-lo como é que zoa com as madames, menino esperto! Quem é o matador da mamãe? Quem é? É Maike Jacks, que lindo!
-Ah ta então!
O menino olha com uma cara de assustado com a situação. Agora a velhinha olha para a moça, põe a mão no peito.
Velhinha: Lembro-me quando tinha o seu corpo, eu era uma das vedetes mais lindas do teatro municipal. Era purpurinas, penas, jóias, maiôs justíssimos e ...
A velha então começa a cantar e dançar “Sei que eu sou bonita e gostosa, sei que você me ama e me quer” ela então ri escandalosamente e começa a tossir desesperada por ar, pega uma bombinha de ar e aspira, toma fôlego de modo desesperado. Dá um sinal para a moça esperar, e só então recomeça a falar.
Velhinha: Mas com o passar dos anos tudo desmoronou. Tudo caiu.
A velha choraminga.
Moça: O teatro caiu?
Velhinha: Não. As coisas começaram a cair literalmente, primeiro foi o seio esquerdo, depois o direito. Já a bunda, meu Deus! Essa caiu de uma só vez, foi plaft no joelho!
O Conquistador observa a cena com nojo.
Moça: Deve que foi muito difícil não é?
Velhinha: Que nada! Foi só passar dos 40 e tudo murchou como um balão furado. Foi só um Fuimmmmmmm e depois pziiiiiiii. Mas por um lado eu aproveitei minha vida ao máximo, seduzi senadores, governadores, presidentes, sapateiros, pagodeiros, cheiradores de lança-perfume, assassinos de aluguel, feirantes da 25 de março, motoristas de caminhão, sobreviventes de guerra.
Conquistador: Sansão, Judas, Abraão, Mun há...
Ele então começa a rir, a moça olha para ele com cara de desaprovação.
Conquistador: O que foi? Não entendeu a piadinha? Mun há? Múmia? Velhinha? Em?
Alguém então bate na porta do lado de fora e faz-se um estrondo simulando que o elevador tenha caído, e então é jogado um pó sobre eles. Logo o Velho se levanta e dispara a correr de um lado para outro, se debatendo contra as paredes tentando sair.
Velho: São os russos, são os russos, fujam para as colinas!
A velha então bate na cara do velho.
Velhinha: Se aquiete homem, firme, firme!
Mocinha: Estão todos bem?Alguém sabe o que houve?
Ladra: Acho que o elevador não suportou o peso.
Moça: Não pode ser sempre descemos neste elevador com treze, quinze pessoas e nunca houve nada de grave aqui e logo agora que somos apenas seis.
Ladra: Mas nunca ninguém desceu depois de eu ter cortado os cabos!
A Ladra olha todos com uma cara lerda e eles respondem apenas com cara de tédio, o Menino se levanta todo cheio de pó e Moça tira-lhe o excesso de pó com uma broxa de pedreiro que estava na bolsa dela. O Conquistador se levanta, espreguiça-se, tira o pó do corpo, solta um suspiro que deixaria qualquer um desconfiado de sua masculinidade e então solta um grito ensurdecedor apontando para as mãos da moça.
Conquistador-Gay: Ahhhhh, tampe isto, tire isso da minha frente! Ai, dói,  meus olhos ... ahhhhhhhhhhhhhhhh!
Moça: O que foi?
Conquistador: Sua unha.
Moça: O que tem sua unha?
Conquistador: Está quebrada!
Então todos exclamam “Ohhhh!”, mas depois balançam a cabeça e exclamam estarem confusos “Ahn?”. A Moça então dá um tapa na cara do Conquistador-Gay.
Moça: Se aquiete homem! Firme, firme!
Conquistador: Você está louca? Sabe quantos pilings terei de fazer para tirar está marca? Sabe? Sua horrorosa!
Moça: Você está louca? Sabe quantos pilings terei de fazer para tirar está marca? Sabe?(repete de modo irônico fazendo gracejos)Oh, Oh!
A moça mostra a mão ameaçando-lhe.
Menino: Hei gente! Vocês não percebem que estamos presos em um elevador e que com certeza alguém pode estar lá fora nos procurando? Será que sou o único adulto daqui?
Todos olham para ele com cara de tédio.
Moça: Então é melhor pedirmos socorro civilizadamente, por favor!
Ela então começa a berrar como uma louca e os outros também, até que ouvem um grito de resposta.
Voz um: Tem alguém aí embaixo?
O eco responde: baixo, baixo, baixo...
Velhinha: Tem.
O eco responde: tem, tem, tem...
Voz um: Vocês estão presos?
Velhinha: Sim.
Voz um: Onde?
Velhinha: No elevador.
Voz um: Que elevador?
Velhinha: O que está aqui embaixo.
Voz um: Ah sim, é mesmo! Bem que percebi que não tinha elevador aqui em cima!
A voz some. O Conquistador empurra a Velhinha.
Conquistador: Deixa eu brincar de eco também. Ai deixa eu ver. Sorvete de pistache.
O eco responde: tache, tache, tache... Ele então continua.
Conquistador: Sabão de coco, salada mista, passei um sufoco escorreguei na pista, gosto do Arnaldo gosto do João, gosto de todos, é muito...
A moça tapa-lhe a boca antes que saia a ultima besteira.
Moça: Hei moço cadê você?
Voz dois: Oi tem alguém aí?
A voz é nordestina.
Moça: Sim, moço é você?
Voz dois: Que moço o quê bichinha eu sou cabra da peste!
Moça: Ah ta então!
Voz dois: Mas chegue aqui bichinha, que é que você ta fazendo aí embaixo?
Moça: Estou presa no elevador.
Voz dois: Tem muita terra aí?
Moça: Nãoooooooooooo, que isso, tem é água.
Voz dois: Quer então que eu chame a guarda-costeira ou a marinha?
Conquistador-Gay empurra a moça.
Conquistador-Gay: A marinha, lá tem cada bofe escândalo!
A moça o empurra.
Moça: Nãooo, chame os bombeiros para nos tirar daqui, por favor!
Novamente o Conquistador a empurra.
Conquistador: Pode ser também, só bombeiro para dar conta do recado! Meu Deusss!
Voz dois: Mas sabe o que é bichim? É que eu to numa moleza, numa bambura, numa canseira que da dó no ser.
Moça: Por favor, é questão de vida ou morte!
Voz dois: Ah, então tudo bem. Vou chamá-los!
Conquistador: Ta, e quando você voltar estarei te esperando!
Moça: O que aconteceu com você?
Conquistador: Ué, nada, eu só estou querendo curtir.
Momento de silêncio.
Voz dois: Moça!
Moça: Oi.
Voz dois: Eu liguei para os bombeiros.
Moça: E aí, o que eles disseram?
Vos dois: Disseram que só vão poder atender daqui a duas horas.
Moça: Por quê?
Voz dois: Ah, disseram que estão fzendo churrasco na laje do corpo de bombeiros,  ta rolando maior pagode lá e se deixarem a carne lá, La se vão R$ 150,00 do dinheiro público jogado fora.
Moça: Ah sim, compreendemos.
Menino vai se achegando e observa com certo interesse a cabine.
Menino: Se bem entendo, estamos num elevador 4X3 feito de uma liga muito forte de aço inoxidável com nox igual a 12, levando em conta a humidade relativa do ar de 20 % e sua densidade, a gravidade do ar de 9,8, o calculo da soma da tangente, o seno e o coseno do triangulo eqüilátero nasal deste deliquente ali do meu lado e a temperatura geotérmica deste subsolo de 40°. Presumo que ainda temos 1 hora de oxigênio.
Moça: E o que você acha que podemos fazer?
Menino: Sugiro que matemo-nos uns aos outros até que reste apenas a metade, assim teremos duas horas de oxigênio. Começando por este marginal e sua cria, pois o nariz dele é desproporcional a quantidade de ar que provemos.
Ladra: Não, não, eu sou filho de Deus e mereço viver!
Velho: Acho que já vivi demais, sobrevivi a golpes de estado, guerras, ditaduras, dilúvio, oh não, esse não foi eu. Mas voltando aqui, acho que já está na hora de morrer e enfim encontrar-me com meu amor Dercy!
Conquistador-Gay: Concordo plenamente e assino embaixo.
Moça: Você não tem coração não?
Conquistador: Tenho, mas bem que poderia ter dois peitões bem grandões e empinadinhos assim!
Ladra: Eu tenho cordas!
Menino: Agora é só um lugar para pendurar e um banquinho! E thiarammm! Vai ser um enforcamento daqueles!
Moça: Esperem aí! Vamos ser racionais, não é provocando morte que vamos sair vivos daqui! Temos outra escolha, eu sei que temos!
Menino: Por acaso alguém faz fotossíntese?
Moça: Nãoo!
Menino: Então não temos outra escolha!
Diz ele feliz já com a corda na mão fazendo gracejos. Uma voz então surge, desta vez os bombeiros.
Bombeiro: Tem alguém ai?
Moça: Sim.
Bombeiro: Quem está aí com você?
Moça: Bom, tem uma ex-vedete, um sobrevivente da Guerra Fria, o neto do Jack estripador, um ex-homem, uma ladra e o protótipo de delinqüente dela.
Bombeiro: Cá entre nós mocinha, tem certeza que quer realmente que eu tire todos daí?
Ela olhou para os lados e a Ladra ameaçou-a.
Moça: Ué, já que não tem outro jeito não é!
Bombeiro: Então eu vou jogar o kit de primeiros socorros.
Moça: Pode mandar.
Por um buraco no teto, caem terços e mais terços, crucifixos e imagens sacras. A velha já se punha a rezar.
Moça: Para que isso?
Bombeiro: Esses são os primeiros socorros, depois se isso não ajudar a gente salva vocês.
Moça: Espera aí. A gente está aqui a muito temo, tire a gente daqui, por favor!
Bombeiro: E carne? Ah deixa pra lá, já começou a chover mesmo! Vamos descer aí e puxaremos vocês. Ok?
Moça: Ok!
Comemoram todos.
Fecha-se a cortina.
Abrem-se segundos depois simulando que já haviam saídos todos de lá. O Conquistador sai fazendo gracejos para os bombeiros e o Velho sai gritando “São os russos! Eles voltaram! Fujam para as colinas!” e dá com a frigideira na cabeça do Conquistador que então volta a ser homem e começa a dar de cima das meninas que neste momento passam na frente do palco para simular os curiosos. A moça sai antes do ladrão.
Moça: Que vento estranho!
Ela fica pegando nela própria como se sentisse nua, apalpa a bunda, o seio. A Ladra então sai com o soutien e a calcinha da Moça na mão, e faz um sinal para que a platéia fique em silêncio escondendo-as na mala.

                                      Fim




Por: Pallomah F. Silva