quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

E enquanto eu finjo que está tudo bem

E quando está tudo bem ele invade meus sonhos,
meus sentidos, minha lucidez e arranca toda a vida que eu construí sem ele
E quando está tudo bem ele me olha de um jeito,
excita minha memória e revive tudo que eu pensei haver matado
E quando está tudo bem ele conversa comigo,
sua voz tira toda aquela sanidade que ainda achava obter e não me resta mais nada
E quando está tudo tudo bem ele passa perto de mim
e o seu cheiro invade meus sentidos como se necessitasse daquilo pra viver
E enquanto eu finjo que está tudo bem ele faz questão de não deixar nada bem em mim, de não deixar pedra sobre pedra da barreira que eu construí entre ele e eu... e enquanto eu finjo que está tudo bem ele insiste em mostrar para todos que não está nada bem comigo sem ele, mas eu resisto por saber que está tudo bem com você e eu quero que continue tudo assim...

segunda-feira, 30 de maio de 2011

...

Sem querer, sem entender, acordamos um dia de manhã com vontade de escrever, de falar sobre algo que está guardado em nós e só nós mesmos sabemos do que se trata, mas em contramão, mal sabemos por onde começar.
E a gente mesmo sem saber, procura nas entrelinhas da vida um motivo a mais pra viver cada dia. Talvez o sonhar e tornar isso realidade já não seja o bastante para querer acordar todos os dias de manhã.
Já abri minha janela e me perguntei de onde vem tantas pessoas sem rumo, o que se passa em suas mentes, o que se escreve nos seus livros da vida, ou se disso posso chamar seus livros...
Já me sentei num monte e olhei para o mundo e tentei achar o meu verdadeiro lugar, cogitei se pelo menos eu o tenho aqui, se é aqui ou se já foi aqui...
Eu agora de manhã poderia me olhar no espelho como de costume e perguntar se minha lucidez está por completo ou se ainda abre espaço para a insanidade, talvez seja este o meu problema...
As vezes as perguntas são tantas que eu queria simplesmente ignorar o mundo e viver a vida como aqueles que vejo passar nas ruas, sem olhar para os lados, sem pensar no porquê, no como, no onde. Sem entender aquilo que acontece e simplesmente deixar de acontecer. Mas daí me vem outra pergunta: Eu seria eu se fizesse isso?
Então fico assim presa entre ser eu e ser mais um, mesmo que para o outro eu seja mais um, é relativo, cada um se acha na singularidade e eu tenho certeza que do outro lado da rua aquele rapaz também acordou de manhã com vontade de escrever algo e mal sabia por onde começar.

sábado, 14 de maio de 2011

Um abraço a loucura

Sentei naquele banco de praça despretensiosa como sempre, as tardes de outono sempre me foram convidativas. Olhei para os lados, ali estavam várias pessoas a fazer o mesmo que eu, nada, só estavam lá e isso já lhe bastavam. Pessoas que assim como eu nada querem além daquilo que são de fatos delas mesmo, que nada admiram mais do que o que universo está proposto e é capaz de nos dar, que tudo sonham além daquilo que lhe consideram normal.
São estes que consideram o fato de respirar algo bonito, o fato de sorrir uma vitória, o fato de ser loucos mais um motivo pra continuar vivos. Pois do que serve mais a vida do que pra viver?
Deixemos a lucidez guardadas nos armários sujos, deixemos a loucura brincar um pouco com nossa mente. Deixemos a educação de lado, o egoísmo, a preocupação exacerbada, a superioridade, a tristeza e vamos ser felizes pelo que nós somos e não por aquilo que pensamos ser ou que acham que somos.
Deixemos as correntes da discórdia, as algemas que nos prendem ao senso comum e vamos ser tudo aquilo que sempre mantivemos guardados dentro de nós.
Um abraço àqueles que sempre conseguiram fazer isso, abraço àqueles que sempre foram eles mesmos, que sempre riram daquilo que acham engraçado, que sempre fizeram aquilo que deveria ser feito, um abraço àqueles que são mais que tudo que o mundo necessita, um abraço àqueles que são acima de tudo aquilo que nasceram para ser, amigos, irmãos, loucos, engraçados, humildes, simples... Um abraço a loucura, um abraço pra Bianca Verônica, Marcelo Castro, Rosana Martins, Luana Cruz, Ana Laura Mulatti, Deborah Macedo, Nathan Lima, Sidy Yamashita, Daniela Souza, Poliana Aurélia, Karina Késsia, Alessandra Vidal, Maria de Fátima, Amandinha entre outros ...


Homenagem a Bi *-*

Síndrome

Amor é uma síndrome, uma doença com vários sintomas, pode ser maligna ou benigna. Maligna quando acaba, benigna quando nunca cura.
Quando os olhos dos doentes se encontram as mãos suam, os corações aceleram, a boca fica seca e só os olhos é que conseguem entregar tudo aquilo que não consegue sair pela garganta que neste instante já tem um nó.
Quanto mais perto da pessoa, mais os sintomas ficam agressivos, as pernas ficam bambas, as bochechas ficam rosadas, os olhos começa a encher-se de água e a maioria das palavras somem e você mal sabe o que falar. O desespero se abate e mais um sintoma aparece a síndrome do pânico ou em casos mais extremos você simplesmente age como um completo idiota. Mas a outra pessoa não se importa, pois ela só sabe sorrir, outro sintoma do amor.
Se verdadeiro for esta sindrome, você nunca se curará e os sintomas nunca passarão. Todos os beijos que você e outro doente trocarem vão parecer com o primeiro que vocês tiverem, será eterno, será intenso, este podemos dizer como o momento mais crítico da doença, todos os sintomas estarão no ápice e os doentes se tornaram dependentes disto. É cruel, eu sei. O sorriso da pessoa amada é mais revigorante do que quando o sol nasce, aqueles pequenos trejeitos, o modo como mexe com o cabelo, como porta-se diante dos outros, como diz o seu nome, como olha pra você e como os olhos dele brilham quando você o chama. Todos os gestos do doente são minusciosamente admirados por você, tudo nele parece perfeito, tudo nele parece ser tão perfeito pra você. Todos os defeitos dele parecem ser perfeitamente defeituosos, porque só você enxerga nele aquilo que todos os outros sãos não conseguem ver. Doente reconhece outro doente, sabe como é!

E se você sente todos este sintomas quando está perto de alguém, sinto muito em te dizer mas tenho péssimas notícias para você!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Pedido

Eu só te peço que afaste-se de mim
que não cruze o meu caminho
que não olhe para mim
e nem muito menos encare os meus olhos
isto já não é mais seu papel
Eu só te peço que não fale mais o meu nome
que não se refira a mim em momento algum
que não comente minhas palavras
e nem muito menos me cite em um dos seus comentários
isto já não é mais seu papel
Eu só te peço que não tente ser feliz perto de mim
que não sorria para as garotas pensando que eu me importo
que não tente me atingir
e nem muito menos me fazer sofrer com seus joguinhos
isto já não é mais seu papel
Eu só te peço que não tente me entender
que deixe a mim e à minha estranheza sozinhas
que não se esforce em ver o mundo como eu vejo
e nem tente fazer parte dele
isto já não é mais seu papel


E se pensa que te peço isto
porque te odeio, porque não te quero mais
saiba que está enganado
faço isso por gostar demais de você
e me dói a cada momento que você me olha, diz meu nome
ou faz qualquer coisa que se refere a mim
sendo que comigo você não quer estar...
isto infelizmente já não é mais meu papel...

terça-feira, 12 de abril de 2011

Aeroporto - Crônica

Como de costume cheguei bem cedo ao aeroporto afim de pegar o primeiro avião para a capital, iria visitar minha irmã como todos os anos eu fazia. Sentei-me num banco, coloquei minhas malas ao meu lado e me entreguei aos prazeres do morador da cidade grande: ler as tragédias do seu país. Passado alguns minutos, senta-se ao meu lado uma jovem mulher, parecia ter uns trinta anos e trazia consigo um bebê de colo e outro menino no apogeu dos seus cinco anos de idade. A mulher sorriu para mim com uma simpatia ímpar, parecia ser a primeira vez que viajava de avião, ao meu ver ela não era da cidade e não havia se acostumado com a antipatia do paulistano. Respondi ao cumprimento com um singelo sorriso, olhei as duas crianças com uma face debochada, não conseguia não demonstrar a minha aversão a estes seres perversos que alguns ainda teimavam em chamar de anjos.
A criança de colo o qual a mãe chamava de Marciliane tentava de todos os modos agarrar meu jornal o qual tinha como capa a visita de Obama ao Brasil, sua mãe a segurava-a com lentidão e certamente em vão, pois aquelas crianças tinham total controle sobre aquela mulher que sorria sem jeito para mim como se pedisse ajuda. Para decretar o final daquela luta, eu já notando o meu jornal completamente babado e amassado, dei o jornal a criança que o apertava com os dedos molhados e o levava a boca, aos poucos a face do presidente Obama ficava irreconhecivel.
Olhei para frente e vi que o meu avião atrasaria, voltei meus olhos para as crianças e pensei comigo que aquele atraso realmente iria demorar mais do que o tempo cronológico marcava. O menino mais velho chamado carinhosamente pela mãe de Toninho, corria de um lado para o outro com um carrinho barulhento e fazendo barulho com a boca.
- VRUMMMMMMMMMMMMMMMM!
- Toninho meu filho, pare com este barulho, não vê que esta atrapalhando as pessoas! -  falava em vão a mulher.
- Mãe, não enche! - respondeu o garoto gritando com a mãe.
- Toninho, não fala isso com a sua mãe.
Eu no lugar dela já teria espalhado petelecos para todos os cantos, de onde já se viu um garoto tão novo desrespeitar a mãe assim. Por isso que sempre disse que crianças só deveriam aprender a falar depois dos dez anos.
Toninho não ficava quieto, passava com o carrinho por cima dos pés das pessoas, atiçava os cachorros que estavam sendo colocados nas gaiolinhas, gritava e corria loucamente por cima de todos os bancos. E eu olhava aquilo com os olhos arregalados enquanto a mulher me explicava:
-Toninho é hiperativo, precisa de acompanhamento médico!
- Claro. - falei querendo na verdade recomendar-lhe um ótimo exorcista, porque aquele menino não era de Deus certamente.
- A senhora tem filhos? - ela me perguntou.
- Não, graças a Deus não.
- Não gosta de crianças não?
- Não muito senhora, não muito. Crianças me assustam. - respondi olhando o relógio e verificando que ainda faltava uma hora para o meu avião partir.
Toninho veio correndo em minha direção como um foguete e me acertou um chute na canela que doeu de tamanha maneira que até o ar me faltou no momento. Pensei em dizer milhões de palavrões, mas nem isso eu conseguia. A mulher me pedia desculpas uma atrás da outra sem cessar, enquanto a criança e o bebê sorriam sem parar. Passou pela minha cabeça colocar aqueles dois animalzinhos os quais chamavam de crianças junto com os outros cachorros, mas eu iria ir presa, infelizmente.
Recuperei-me da dor, levantei-me e sai para a área de comércio do aeroporto, voltei de lá com várias revistinhas em quadrinhos e guloseimas. Fui até Toninho e cochichei no ouvido dele um pedido e entreguei tudo que eu havia comprado a ele e ele aceitou o pedido balançando a cabeça e já saboreando as infinitas qualidades de balas.
Os minutos se passavam e quando já chamavam para o embarque, a mulher me perguntou o que eu havia feito para que Toninho cessasse suas traquinagens, pus a mão em seu ombro, olhei no fundo dos seus olhos e com um olhar pesaroso eu respondi:
- Trabalho há dez anos como delegada e sei muito bem como lidar com marginais. Boa sorte, você vai precisar.

terça-feira, 29 de março de 2011

Vida E Privada

Hora de relaxar, de pensar na vida, de fazer com que tudo que me faz mal e que não presta para mim ir por água a baixo. Momento de fazer com que eu fique mais leve, alegre, desinibida; momento de me esforçar ao máximo, de suar o rosto, de fazer careta e logo depois uma cara de alívio. Entro no banheiro, tranco a porta, abaixo as calças, sento-me na privada, apoio o queixo sobre a mão e conseqüentemente o cotovelo sobre o joelho e me trono a mais nova escultura de Auguste Roudin: A Pensadora! É chegado o momento de filosofar!
Há quem faça cara feia para este assunto, mas é a mais pura verdade, atire-me a primeira pedra quem nunca levou para o banheiro um jornal, revista, bula de remédio ou simplesmente parou para pensar na vida sentando num vaso sanitário.
Tenho quase absoluta certeza de que vários pensamentos, correntes filosóficas ou sociológicas, teorias físicas, biológicas ou químicas e até mesmo invenções surgiram do momento banal e crucial diário em que o sábio pôs-se a sentar no seu trono e fazer o número 2.
Já nota-se que a imagem passada do homem sábio está um tanto relacionada ao ato de estar sentado num lugar calmo, silencioso e sempre sozinho, talvez seja isso que faça com que o banheiro e seu tímido vaso sanitário sejam tão acomodadores e estimulantes.
Creio eu, que o simples fato da diária filosofia no momento da evacuação dos dejetos seja um dos poucos prazeres do homem moderno ainda conservado no seu processo evolutivo.
Os minutos no banheiro vão passando, suas vias nasais acostumam-se com o odor e os pensamentos críticos e inventivos fluem sem nem ao menos percebermos. Folheia-se uma revista, nota-se mais um escândalo político brasileiro e comenta-se aleatoriamente "Isso não está me cheirando bem!" referindo-se a notícia, é claro! Pequenas pausas são feitas diante do pensamento filosófico para que possamos "esforçar-nos" mais um pouco, dependendo da intensidade do esforço esboça-se um franzir de testa ou uma careta fantasmagórica, mas sempre procedida de uma face serena de um alívio tão bom. Então voltamos a filosofia.
Acho que podemos dizer que evacuar já não é mais apenas uma necessidade biológica, mas também uma necessidade intelectual. A ciência proclama pela emancipação dos filósofos de privadas. Para mim, deveria ser obrigatório a ida ao banheiro pelo menos três vezes ao dia, tudo pelo progresso e bem da ciência. E se me perdoarem o gracejo, digo mais, a filosofia no banheiro evitaria o acúmulo de merda, literalmente e figuradamente.
Agora, sem mais delongas, levanto-me do vaso, limpo-me, dou descarga nos meus problemas e vejo-os irem por agua abaixo. Olho-me no espelho, sinto-me ligeiramente sábia, lavo minhas mãos, abro a porta e saio aliviada. Filosofei demais por hoje, já chega!