quinta-feira, 25 de novembro de 2010

E quando era fim...

Aquele anjo andava sobre trevas, nuvens negras, azuladas e vermelhas, como se fosse fumaça,e nenhum sinal de sol, apenas uma luz por de trás das nuvens as faziam mais tenebrosas. Ventos fortes sem direção nenhuma, vinham dos quatro cantos do mundo: folhas, sementes, poeira, papéis e outras coisas voavam por entre ela, mas nada a atingia, parecia até mágico, pois as coisas pareciam até desviar dela.
As pessoas pelas ruas andavam como se estivessem procurando alguma coisa, talvez esperança. Andavam semi-nús, roupas rasgadas, na verdade trapos. Só se ouvia gritos de dor, explosões, armas, e por trás do Anjo a poeira subia como se estivessem explodindo tudo por onde ela passava tentando atingi-la, mas nada a fazia parar de caminhar.
Usava uma blusa cinza rasgada, a calça jeans, por onde andava rasgava-lhe a roupa a fim de fazer curativos naqueles que estavam a urrar de dor. Nas costas, onde havia surgido as asas, ainda jorrava sangue.Cabelos compridos, sujos de suor e sangue, olhos caramelo, e pés descalços.
Estendia as mãos como se tentasse uma energia que lhe indicasse algo bom em meio aquela guerra, andou mais ainda, encontrou um campo de rosas do lado esquerdo e uma campo de milho a direita, havia crianças morrendo de fome e comendo aqueles míseros grãos de milho seco, naquela época de guerra só aquilo restavam-lhes. Sentiu-se inútil, de que adiantava um anjo naquele local, se no mundo inteiro havia infestação do que havia mais impuro, a peste, a fome, a ganância, a vaidade, o ódio...
Sabia que não tinha mais força naquele momento então ajoelhou-se no chão, mas as crianças tão fracas e suas mães olhavam-na com os olhos cheios de esperança. Ergue a cabeça aos céus e disse:
-Pai, se tu me pusestes aqui, se tu me deras um fardo tão pesado era porque sabia que podia contar com tua filha. Pai, faça da sua parte que da minha...- ela olhou para as crianças- da minha eu farei.
Ela estendeu as mãos para os dois lados da estrada, indicando as plantações, respirou ofegante. Soltou um grito de dor que pode-se ouvir nos quatro cantos do mundo, e por meio de suas mãos uma luz forte e as duas plantações rejuvenesceram, e o milho estava sadio e bom para alimentar-se. As crianças e as mães saciaram sua fome, mas era pouco ela sabia, havia no mundo milhões de pessoas com fome, e era necessário fazer mais. Abaixou as mãos e começou a chorar.
As rosas florescendo voaram pra todos os lados, junto com o vento que levava folhas secas, agora levava rosas brancas para todo o mundo. Ela abaixou a cabeça e lá ficou por alguns minutos, logo depois, sentiu uma energia boa, que lhe dava forças. Levantou os olhos e a sua frente estava Ele, outro Anjo. O Anjo o qual ela amava, apesar de que seria estranho o amor entre os anjos, mas a convivência com os humanos havia lhe ensinado o dom de amar.
Eles então se abraçaram forte, e uma luz branca saiu do abraço dos dois, e todas as plantações secas do mundo, foram enverdecendo e dando frutos.Todos os lobos morriam queimados. Todas as pessoas foram curadas da peste, todas as nuvens negras iam embora e o sol aparecia deslumbrante. Ouvia-se trombetas e outros anjos a cantar, e todo o mundo levantou-se e olhou para o céu e agradeceu a Deus. Ele havia feito a parte dele, e o Anjo havia feito sua parte. O amor contido no que ela fez, reviveu os outros anjos mortos nas batalhas, o amor dela pelo outro anjo... havia salvado milhões. E quando era fim aquele amor cultivado pelos seres humanos, aquele amor entre homem e mulher havia contagiado ambos os anjos que acabaram salvando o mundo e aqueles que nele habitavam.

sábado, 13 de novembro de 2010

Amar não é...

Era para ser um dia normal de fim de semana na pacata vida daquela garota, ia ao cinema ver os lançamentos de filmes de terror, seus favoritos. Na ultima gaveta do criado-mudo, uma foto entre meio os papéis, era ELE, aquele que fazia o coração dela disparar a cada vez que seu nome era dito, aquele que fazia ela se arrepiar a cada toque inocente a sua pele.
Pensou que ele poderia estar lá no cinema já que gostavam das mesmas coisas, arrumou-se como nunca, enfeitou-se com a maquilagem nova que havia ganhado de Natal, pôs a roupa nova que guardava para o dia em que ela iria fazer algo grandioso. E sim, era aquele dia em que ela lhe diria tudo, do quanto chorou, do quanto o amou, de quantas vezes morreria por ele e outras coisas do gênero de uma mulher perdidamente apaixonada.Pensou nas milhões de coisas que ele poderia dizer, ela queria que ele dissesse que ela era a razão da vida dele, e que sempre a amou, mas que esperava o momento certo para dizer isso, ele então diria que queria passar a vida com ela, ter filhos, construir uma casa arquitetada pelos dois, e que abandonaria tudo por ela, e traria toda a felicidade do mundo apenas por ela.
Saiu de casa confiante, seus olhos brilhavam como nunca, as pessoas observavam aquela garota passar por lá depois de muitas vezes vê-la triste, acanhada, agora estava radiante, transbordando alegria.
Há poucos metros da bilheteria, ela o viu. Seu coração disparou, suas mãos suaram e borboletas voavam na barriga dela, respirou fundo, recuperou o lindo sorriso no rosto e seguiu em frente.
Ela se aproximou dele, pensou que iria cair de tanto nervoso. Gaguejou:
-Oi!
-Olá, eu estava mesmo te procurando!
-Oh, sério? - disse ela meio que sorrindo.
-Sim, eu sei que você é minha amiga, mas queria dizer que estou apaixonado! - ele disse isso e ela esboçou o sorriso mais lindo já visto no rosto dela. - Mas eu não sei como dizer isso a ela, ele vem aqui hoje e precisava que você me desse umas dicas, quero dizer que gosto dela, mas não sei como!- o sorriso dela então foi se desfalecendo aos poucos e os olhos se encheram de lágrimas. -Por favor, ela é tudo que eu quero e ninguém mais me importa, me ajuda vai!- ela se virou de costas para ele a fim de que ele não notasse as lágrimas.
-Diga a ela que ela é a razão da sua vida, e que sempre a amou, mas esperava o momento certo para lhe dizer, diga que quer passar a vida toda com ela, ter filhos, e que vocês dois vão construir a casa juntos e que você abandonaria tudo por ela, e que traria toda a felicidade do mundo apenas por ela.
-Nossa, que lindo! Ela vai gostar?
-Não sei ela, mas eu amaria ouvir isso de você!- disse ela cochichando entre meio as lágrimas, e foi se indo, logo atrás a moça a qual ELE se apaixonou chegava e ele dizia tudo aquilo a ela.
Caminhou sem parar pela rua, e uma fina chuva começava a cair. As lágrimas do céu, lhe tiravam o salgado gosto das lágrimas de amor, ela ajoelhou-se no chão, olhou para o céu, deixou com que a chuva lhe tirasse todo amor, lhe tirasse todo ódio, lhe deixasse pura de tudo. O sol então, apareceu entre nuvens, fazendo com que lhe queimasse a raiva novamente dentro dela, o desespero, a desilusão. As nuvens então cobriram o céu novamente e a chuva voltou a cair sobre ela, lhe fazendo bem, lhe tirando tudo o que havia de lhe machucar, deixando adentrar nela o perdão e a sabedoria que a chuva lhe ensinara, que :
Amar não é querer a pessoa amada ao seu lado,
 mas querer que ela seja feliz,
 mesmo que a felicidade dela não se encontre dentro de você!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Cada Pallomah que me acontece

A enfermeira pegou a injeção de adrenalina:
-Rápido estamos perdendo a mãe!- disse o médico tentando manter a calma.
-Mas doutor a criança não está chorando!- exclamou a enfermeira em ataque de nervos.
-Dê-lhe um tapa na bunda!- afirmou o médico escutando um estampido forte no ouvido e logo depois um berreiro grande. - Eu falei pra dar-lhe um tapa, não para espancá-la!
-Mas ela esta viva oras!- enraiveceu-se a enfermeira.
O médico aplicou a injeção na mãe, e logo os batimentos voltaram ao normal, ele então enxugou o suor do rosto e terminou a operação.
Em frente à maternidade um homem loiro segurava aquela criança que não queria chorar, sua mãe havia acabado de sair da mesa cirúrgica há pouco tempo e agora estava dormindo. Aquele homem não era o pai, na verdade, a sua mulher estava dando a luz naquele instante a um menino, mas como o pai daquela criança ainda não havia chegado ao hospital, o jeito foi segura-la.
Virando o corredor, um homem moreno vinha mancando depressa com uma mamadeira com chá verde, este sim era o pai da criança que havia feito uma cirurgia há poucos meses. Ele passou direto pelo homem loiro, nem olhou, e foi direto para a maternidade procurar uma criança.
- Ei senhor!- gritou o homem loiro.
-Cara, num posso agora to procurando meu filho!
-Mas senhor...                                                
-Já falei, estou procurando meu filho!
-Mas este é o seu filho!
-Não, este é o seu, o meu deve estar por ai!
-Não, este é o seu, o meu está nascendo!
-Não, esta criança não pode ser minha, criança feia demais, olhe como é o nariz dela é grande, suas orelhas são abertas como antenas parabólicas, não, não é minha esta criança!
A porta do quarto onde estava sua mulher se abriu, era o médico pegando na mão do homem moreno:
-Parabéns senhor Geraldo! É uma linda menina, parece muito com o senhor!
Geraldo pegou a menina nos braços, deu cutucadinhas no nariz dela e entrou no quarto, sua mulher estava na cama deitada, ele sentou na beirada da cama com o neném nos braços.
A mãe sorriu em meio a lágrimas vendo aquela menininha se alimentar de seu leite, chamou-a de Pallomah.



Criança franzina, quem não a conhecesse diria que era desnutrida, mas na verdade, era magra de ruim mesmo, porque comer era com ela. Cabelo de cor indefinida, digamos cor de mel, corte chanel e franjinha acima dos olhos espertos pra não dizer custosos. Sorriso sapeca, típico de criança que dá trabalho, no bochecha duas covinhas se fazia, rostinho bem definido, uma graça de menina se não fosse sua língua grande. Não havia quem escapasse da sua língua afiada.
-Pallomah beba esse leitinho com café!- disse avó Maria.
-Vó, este leite está azedo!
-Não está não comprei hoje.

-Vó, largue de ser boba, este leite está coalhando, não quero, só quero café!
E lá se ia a vó Maria pegar café para aquela pestinha.
Quando ainda pequena sofreu de uma doença no cérebro, causado por um trauma durante a gestação que causou problemas na formação do tubo nervoso central, tinha pequenas deficiências no corpo quase imperceptíveis, nada demais, teve disritmia cerebral e por isso era hiperativa.

Confesso que esta sou eu, Pallomah F. Silva, não conto o sobrenome do meio porque eu o odeio de morte, se pudesse já havia lhe enforcado e atropelado três vezes, mas como não é possível, deixo-o oculto até que ninguém se atreva a perguntar. Ferreira? Fontes? Ferraz? Furlan? Não. Fátima. E sem mais comentários!
De certo, acho que a vida quis divertir um pouco as pessoas, então eu nasci pelada, banguela, orelhas abertas, nariz grosso, e lá se vai cacetadas. Então nada tenho a perder!
Eu já fui criança levada, já fui Power rangers negro (porque rosa e amarelo já eram das minhas outras duas melhores amigas), como sempre fui a mais “pervertida” e mais macabra das três, era a Power rangers negra!
Lá se foi uma infância, três meninas. A primeira era de cabelos pretos compridos de pontinhas enroladas; a outra loira de cabelos cortados como de menino, gordinha e baixinha; e a última de cabelos cortados tipo Chanel, franjinha nos olhos, magrela e comprida. Eram três as quais nunca deixavam de brincar, a brincadeira é uma verdade, uma ilusão de que eram aquilo que eram para ser. E que fosse daquele modo, pois nada tinha de mentira, nada de sujeira, o mundo era um quintal!
Saudades...
(Continua... qualquer dia)

Desabafo

Eu poderia achar um milhão de definições mais para meros sentidos, se não fosse pela minha pouca presença de lucidez. De certo, não fosse por isso que me amarraria em uma blusa branca encardida e me jogaria num sala de paredes aconchegantes, talvez seja ainda muita lucidez para um louco. Então eu lhe diria milhões de versos estranhos, sem nexo, que vem da boca como se fosse oração de uma criança tão triste, fé automática, insanidade de momentos. E eu poderia me castigar por estar escrevendo coisas as quais ninguém achará sentido e que de nada há glória ou perdão, e se Deus ver o que eu escrevo, de certo, mandará um raio aqui; mas não faço por mal, é porque gosto e vejo sentido, que culpa tenho eu se não podes ver a alma que habita por tras das palavras?
E você me chamará de louca mesmo assim, talvez demente, um eufemismo apenas para acalmar todas as opiniões, mas sabes que nem me importo, desde que o mundo é mundo, nenhum humano é normal. Louco seria eu se robotizasse meus gesto e torna-se apenas mais um. 
E se me julgas, já não sei o que fazer com você! Ah meu Deus o que fazer? Esqueço-me que já não me escutas, mas deixe isso de lado e cá entre nós eu nunca fui um livro aberto para aqueles que me veem e leem o que escrevo!
Mas é segredo o que está entre eu e as palavras, foi um acordo de anjos, eu escreveria e eles dariam vida e alma para o que escrevo, e assim nasce, vive, cresce e evolui aquilo que tu ledes, tudo que há em mim, tudo aquilo que sou e que você ainda não entendeu !

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O Passado nunca morre!

Acordou assustada, já se fazia um mês que sonhava com as mesmas pessoas e aquilo lhe frustrava, um homem velho de olhos verdes, pele flácida, cabelos compridos, ralos e grisalhos, lhe dava medo pensar nele, era um velho tão estranho, com ar tão malévolo que lhe arrepiava cada vez que pensava nele. Havia um homem com traços orientais, cabelos médios e bem negros, sempre usava um terno preto e tinha um ar de superioridade e de fato era atraente, não sabia porque, mas aquele homem lhe lembrava o que havia de mais mal na terra, pois ele mentia com os olhos, com o belo sorriso. O outro homem era o que mais lhe intrigava, no começo dos sonhos que ela tivera com eles, ele era assim como os outros, mal, de hábitos cruéis. Mas com o passar dos sonhos, ela conseguira quebrar a barreira que ele obtinha e ele se tornou mais amigável, ela sabia que ele estava fazendo algo errado, só podia  ser isto, sempre queria mata-la ou fazer qualquer mal a ela e aos amigos dela, chamou- o sempre de Daemon. Mas por trás daquilo tudo, havia um sentimento que ela cultivava sobre ele, ela sabia que ele também gostava dela. Mas naquela noite o sonhos fora tão estranho, Daemon ia embora com os outros como se fosse obrigado, pareciam discutir e depois daquilo nunca mais sonhou com eles, na verdade, depois daquilo, ela nunca mais sonhou.
Dois anos se passaram desde aqueles sonhos, mas ela ainda não esquecera aquele belo rapaz loiro de cabelos curtinhos, olhos azuis e ombros largos, nada fazia ela esquecer aquela barba mal feita, nada!
Aquela melancólica tarde de sexta feira, ela estava debruçada sobre a janela daquela casa azul, observava de longe a igrejinha de sua cidade. Já eram seis horas, o sol se punha e uma triste Ave Maria estava tocando no som da igreja. As gaivotas voavam sobre o céu laranja e rastros de nuvens brancas deixavam tudo tão mais tenebroso. Ela debruçada na janela, sem ânimo para nada, apenas sentia aquela brisa fria a bagunçar seus cabelos, e como se sentisse que estava em um sonho, uma sensação estranha de liberdade recaiu-se sobre o seu corpo, e ela abriu a porta e saiu pela rua. Andou em linha reta, as coisas pareciam tão irreais, as folhas secas voavam por volta dela, e logo o céu escureceu, num medo absoluto daquilo ela apenas mexeu com os lábios e soltou um pequeno gemido:
-Deus!
Então caiu no chão de joelhos, como se aquela palavra lhe tivesse tirado todas as forças e como se o chão aclamasse por ela. Levantou os olhos, e lá em frente a ela, os três homens estavam, o velho de cabelos compridos, o japonês de terno preto e o homem o qual nunca deixou de existir dentro dela. Não sabia se chorava ou se sorria, resolver rir entre meio as lágrimas, o homem loiro então abaixou-se pegou na mão dela:
-Está na hora de esquecer tudo, o homem o qual chamou não está olhando por você. Somos nós quatro apenas.
-Mas, como assim não olha por mim?
-Levante-se, de agora em diante temos todo o tempo do mundo para lhe explicar!
Ela então se levantou, olhou nos olhos dele e eles se beijaram, era o amor que havia atravessado as barreiras do imaginável e do não imaginavel. Eles então seguirão sem olhar para trás. O velho então virou-se, olhou para cidade vazia e sorriu.
Há uns metros dali, numa casa azul, atrás de uma janela, uma mãe chorava sobre o corpo da filha que morrera com um discreto sorriso no rosto e uma lágrima que ainda escorria pelo rosto pálido.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Senhora Morte II

E neste meio encanto, pedaço de vida, seria infame dizer que sonho é algo natural!
São palavras sem sentido, nexo ou contextos, são seres inanimados ganhando vida num simples papel de carta, são seres sendo levados por um envelope branco cheirando a flor...
Eu não lhes daria a vida, não lhes mostraria o caminho do sonho, nem por um segundo ou eternidade sequer...
E por mais que quem leia não entenda, eu entendo, sinto e observo que os mares não são os mesmos, e o mundo já não é mais meu...
São tão apocalípticos os silogismos que eu diria que fora Senhora que tivesse escrevido, se não notasse que os pingos nos i's são tão mais leves... tão mais suaves... E tal Senhora nunca fora tão pesada sua consciência!

Senhora Morte I

Acha que eu deveria parar de sonhar só para por os pés nos chão?
Acha que eu deveria deixar de viver parar morrer?
Acha que eu deveria parar de ser para não mais existir?
Acha que eu devia escrever para que matasse este meu ser aqui dentro?
Acha que devo acreditar em Deus para ter fé?
Acha que devo estar em pé para manter autoridade?
Acha que devo andar de cabeça erguida para mostra-lhe força?
                                    Não, eu sou, o meu SER, e nada fará ser diferente,
      nem se eu parar de existir, 
                                                         o meu SER ainda habitará cada homem nesta terra...

Grito

Para quem declamar poemas de amor, se o amor que era já não é mais,
o amor de hoje já não se chama amor, agora é só futilidade?
Para que acalentar-me nos braços de alguém, se esse alguém já não é o mesmo,
se o mundo já lhe mudara e transformara em outro ser o qual não conheço?
Para que sentir frio, se o calor desta existência já me queima por dentro,
se apenas existe o frio da angustia e te-la, nada me fará bem?
Para que gritar a felicidade, se ela já não é a mesma felicidade de antes,
se esta felicidade não passa de acomodação?
Para que realizar um sonho, se o sonho já não é mais sonho,
se o imaginar já não é idealizado?
Para que chorar de dor, se a dor é algo relativo,
se a dor já não dói tanto quanto o pensar?
Para que escrever versos, poemas e prosas, se ninguém irá ler,
se ler já não entenderá?
De que vale a palavra se não acompanhada de amor, de inspiração em alguém, de sentidos, de sentimentos?
De que vale a palavra se são só palavras? De que vale?
Sim eu grito, eu grito por que sentir me faz ser!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Amor doentio

-Eu te amo!
-Não me importo! Eu amo outro!
-Mas ele não te ama como eu te amo!
-Sim, ele me ama mais, ele não quer que eu me mate, ele não me julga!
-Mas ele não te conhece como eu conheço.
-Não me importo, você acha que quero passar minha vida contigo? Não, eu não quero!
-Você passou a vida toda comigo, sempre fomos felizes juntos!
-Mas minha vida não é só você, há outras coisas além de você as quais eu quero viver, já disse deixe-me!
-Mas e eu? O que farei sem você aqui?
-Eu sempre estarei aqui, você nunca ficará sem me ver, eu estarei em você e você estará em mim, entenda!
-Mas eu te quero só pra mim! Eu sou egoísta te quero só pra mim, você é só minha, você é que tem que entender!
-Não, eu arranjei alguém que me ame, e eu o amo, eu continuo te amando, é inevitável não te amar, mas é que seu amor é nocivo... Você tem que abrir a mente para outras coisas! Ele também te fará bem! - ela passou a mão sobre os cabelos, num gesto de desespero e pôs-se a chorar.- Entenda, além de você há muitas outras coisas a se viver, por favor! Se você me ama, me deixe viver, assim nós viveremos felizes!
-Levante-se do chão, por favor! Eu te amo, então, deixarei você viver com ele, se isso fazer sua felicidade! Mas se ele não te fizer feliz, você sabe onde me encontrar!
Ela se levantou, olhou para frente, estava em frente ao espelho quebrado do quarto vazio, falando consigo mesma, eram duas, se amavam, o quarto? O lugar de encontro das duas amantes, egoístas o bastante para quererem uma a outra apenas para si! O seu eu que se manifestava, o seu eu que amava a si própria, no amor mais doentio da história!

Transitoriedade

Confesso que seria complexo, sem nexo e contexto descrever o ser, se o coração que nele bate, é infame, e eu não seria abstrata o bastante para atribuir-lhe os sonhos, os medos. Poderia então poder me chamar de Senhora Morte, impiedosa e cruel, por matar-lhes os sentimentos humanos, ao pensar que em um papel eu pudesse descrever tal natureza infame que és. E então pudera perguntar:
-Senhora morte, se já mataste meu peito, porque não matastes minha mente e levastes meu corpo ao mais profundo calor da terra?
Eu dissera então com a boca seca, lábios púrpura, morte sem vida:
-E já não vede que estás onde queria? Matei tua vida, teu ser, tua essência, sobraste com a matéria, com a carne, e apodrecerá aqui, diante terra, morros e seres, mostrará que viestes para o coração, para ser. Então os seres saberão que mais que mente e de razão, um ser é feito! Pensarás que sou má, impiedosa por te deixar viver morto, sem peito, sem coração, sem sentimentos, pura e pecadora carne movimentando-se como larvas; mas ei que lhe digo homem, não sou má, a morte veio para abrir-lhes os olhos dessa vossa transitoriedade!
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