sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O Passado nunca morre!

Acordou assustada, já se fazia um mês que sonhava com as mesmas pessoas e aquilo lhe frustrava, um homem velho de olhos verdes, pele flácida, cabelos compridos, ralos e grisalhos, lhe dava medo pensar nele, era um velho tão estranho, com ar tão malévolo que lhe arrepiava cada vez que pensava nele. Havia um homem com traços orientais, cabelos médios e bem negros, sempre usava um terno preto e tinha um ar de superioridade e de fato era atraente, não sabia porque, mas aquele homem lhe lembrava o que havia de mais mal na terra, pois ele mentia com os olhos, com o belo sorriso. O outro homem era o que mais lhe intrigava, no começo dos sonhos que ela tivera com eles, ele era assim como os outros, mal, de hábitos cruéis. Mas com o passar dos sonhos, ela conseguira quebrar a barreira que ele obtinha e ele se tornou mais amigável, ela sabia que ele estava fazendo algo errado, só podia  ser isto, sempre queria mata-la ou fazer qualquer mal a ela e aos amigos dela, chamou- o sempre de Daemon. Mas por trás daquilo tudo, havia um sentimento que ela cultivava sobre ele, ela sabia que ele também gostava dela. Mas naquela noite o sonhos fora tão estranho, Daemon ia embora com os outros como se fosse obrigado, pareciam discutir e depois daquilo nunca mais sonhou com eles, na verdade, depois daquilo, ela nunca mais sonhou.
Dois anos se passaram desde aqueles sonhos, mas ela ainda não esquecera aquele belo rapaz loiro de cabelos curtinhos, olhos azuis e ombros largos, nada fazia ela esquecer aquela barba mal feita, nada!
Aquela melancólica tarde de sexta feira, ela estava debruçada sobre a janela daquela casa azul, observava de longe a igrejinha de sua cidade. Já eram seis horas, o sol se punha e uma triste Ave Maria estava tocando no som da igreja. As gaivotas voavam sobre o céu laranja e rastros de nuvens brancas deixavam tudo tão mais tenebroso. Ela debruçada na janela, sem ânimo para nada, apenas sentia aquela brisa fria a bagunçar seus cabelos, e como se sentisse que estava em um sonho, uma sensação estranha de liberdade recaiu-se sobre o seu corpo, e ela abriu a porta e saiu pela rua. Andou em linha reta, as coisas pareciam tão irreais, as folhas secas voavam por volta dela, e logo o céu escureceu, num medo absoluto daquilo ela apenas mexeu com os lábios e soltou um pequeno gemido:
-Deus!
Então caiu no chão de joelhos, como se aquela palavra lhe tivesse tirado todas as forças e como se o chão aclamasse por ela. Levantou os olhos, e lá em frente a ela, os três homens estavam, o velho de cabelos compridos, o japonês de terno preto e o homem o qual nunca deixou de existir dentro dela. Não sabia se chorava ou se sorria, resolver rir entre meio as lágrimas, o homem loiro então abaixou-se pegou na mão dela:
-Está na hora de esquecer tudo, o homem o qual chamou não está olhando por você. Somos nós quatro apenas.
-Mas, como assim não olha por mim?
-Levante-se, de agora em diante temos todo o tempo do mundo para lhe explicar!
Ela então se levantou, olhou nos olhos dele e eles se beijaram, era o amor que havia atravessado as barreiras do imaginável e do não imaginavel. Eles então seguirão sem olhar para trás. O velho então virou-se, olhou para cidade vazia e sorriu.
Há uns metros dali, numa casa azul, atrás de uma janela, uma mãe chorava sobre o corpo da filha que morrera com um discreto sorriso no rosto e uma lágrima que ainda escorria pelo rosto pálido.

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