terça-feira, 12 de abril de 2011

Aeroporto - Crônica

Como de costume cheguei bem cedo ao aeroporto afim de pegar o primeiro avião para a capital, iria visitar minha irmã como todos os anos eu fazia. Sentei-me num banco, coloquei minhas malas ao meu lado e me entreguei aos prazeres do morador da cidade grande: ler as tragédias do seu país. Passado alguns minutos, senta-se ao meu lado uma jovem mulher, parecia ter uns trinta anos e trazia consigo um bebê de colo e outro menino no apogeu dos seus cinco anos de idade. A mulher sorriu para mim com uma simpatia ímpar, parecia ser a primeira vez que viajava de avião, ao meu ver ela não era da cidade e não havia se acostumado com a antipatia do paulistano. Respondi ao cumprimento com um singelo sorriso, olhei as duas crianças com uma face debochada, não conseguia não demonstrar a minha aversão a estes seres perversos que alguns ainda teimavam em chamar de anjos.
A criança de colo o qual a mãe chamava de Marciliane tentava de todos os modos agarrar meu jornal o qual tinha como capa a visita de Obama ao Brasil, sua mãe a segurava-a com lentidão e certamente em vão, pois aquelas crianças tinham total controle sobre aquela mulher que sorria sem jeito para mim como se pedisse ajuda. Para decretar o final daquela luta, eu já notando o meu jornal completamente babado e amassado, dei o jornal a criança que o apertava com os dedos molhados e o levava a boca, aos poucos a face do presidente Obama ficava irreconhecivel.
Olhei para frente e vi que o meu avião atrasaria, voltei meus olhos para as crianças e pensei comigo que aquele atraso realmente iria demorar mais do que o tempo cronológico marcava. O menino mais velho chamado carinhosamente pela mãe de Toninho, corria de um lado para o outro com um carrinho barulhento e fazendo barulho com a boca.
- VRUMMMMMMMMMMMMMMMM!
- Toninho meu filho, pare com este barulho, não vê que esta atrapalhando as pessoas! -  falava em vão a mulher.
- Mãe, não enche! - respondeu o garoto gritando com a mãe.
- Toninho, não fala isso com a sua mãe.
Eu no lugar dela já teria espalhado petelecos para todos os cantos, de onde já se viu um garoto tão novo desrespeitar a mãe assim. Por isso que sempre disse que crianças só deveriam aprender a falar depois dos dez anos.
Toninho não ficava quieto, passava com o carrinho por cima dos pés das pessoas, atiçava os cachorros que estavam sendo colocados nas gaiolinhas, gritava e corria loucamente por cima de todos os bancos. E eu olhava aquilo com os olhos arregalados enquanto a mulher me explicava:
-Toninho é hiperativo, precisa de acompanhamento médico!
- Claro. - falei querendo na verdade recomendar-lhe um ótimo exorcista, porque aquele menino não era de Deus certamente.
- A senhora tem filhos? - ela me perguntou.
- Não, graças a Deus não.
- Não gosta de crianças não?
- Não muito senhora, não muito. Crianças me assustam. - respondi olhando o relógio e verificando que ainda faltava uma hora para o meu avião partir.
Toninho veio correndo em minha direção como um foguete e me acertou um chute na canela que doeu de tamanha maneira que até o ar me faltou no momento. Pensei em dizer milhões de palavrões, mas nem isso eu conseguia. A mulher me pedia desculpas uma atrás da outra sem cessar, enquanto a criança e o bebê sorriam sem parar. Passou pela minha cabeça colocar aqueles dois animalzinhos os quais chamavam de crianças junto com os outros cachorros, mas eu iria ir presa, infelizmente.
Recuperei-me da dor, levantei-me e sai para a área de comércio do aeroporto, voltei de lá com várias revistinhas em quadrinhos e guloseimas. Fui até Toninho e cochichei no ouvido dele um pedido e entreguei tudo que eu havia comprado a ele e ele aceitou o pedido balançando a cabeça e já saboreando as infinitas qualidades de balas.
Os minutos se passavam e quando já chamavam para o embarque, a mulher me perguntou o que eu havia feito para que Toninho cessasse suas traquinagens, pus a mão em seu ombro, olhei no fundo dos seus olhos e com um olhar pesaroso eu respondi:
- Trabalho há dez anos como delegada e sei muito bem como lidar com marginais. Boa sorte, você vai precisar.

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