Hora de relaxar, de pensar na vida, de fazer com que tudo que me faz mal e que não presta para mim ir por água a baixo. Momento de fazer com que eu fique mais leve, alegre, desinibida; momento de me esforçar ao máximo, de suar o rosto, de fazer careta e logo depois uma cara de alívio. Entro no banheiro, tranco a porta, abaixo as calças, sento-me na privada, apoio o queixo sobre a mão e conseqüentemente o cotovelo sobre o joelho e me trono a mais nova escultura de Auguste Roudin: A Pensadora! É chegado o momento de filosofar!
Há quem faça cara feia para este assunto, mas é a mais pura verdade, atire-me a primeira pedra quem nunca levou para o banheiro um jornal, revista, bula de remédio ou simplesmente parou para pensar na vida sentando num vaso sanitário.
Tenho quase absoluta certeza de que vários pensamentos, correntes filosóficas ou sociológicas, teorias físicas, biológicas ou químicas e até mesmo invenções surgiram do momento banal e crucial diário em que o sábio pôs-se a sentar no seu trono e fazer o número 2.
Já nota-se que a imagem passada do homem sábio está um tanto relacionada ao ato de estar sentado num lugar calmo, silencioso e sempre sozinho, talvez seja isso que faça com que o banheiro e seu tímido vaso sanitário sejam tão acomodadores e estimulantes.
Creio eu, que o simples fato da diária filosofia no momento da evacuação dos dejetos seja um dos poucos prazeres do homem moderno ainda conservado no seu processo evolutivo.
Os minutos no banheiro vão passando, suas vias nasais acostumam-se com o odor e os pensamentos críticos e inventivos fluem sem nem ao menos percebermos. Folheia-se uma revista, nota-se mais um escândalo político brasileiro e comenta-se aleatoriamente "Isso não está me cheirando bem!" referindo-se a notícia, é claro! Pequenas pausas são feitas diante do pensamento filosófico para que possamos "esforçar-nos" mais um pouco, dependendo da intensidade do esforço esboça-se um franzir de testa ou uma careta fantasmagórica, mas sempre procedida de uma face serena de um alívio tão bom. Então voltamos a filosofia.
Acho que podemos dizer que evacuar já não é mais apenas uma necessidade biológica, mas também uma necessidade intelectual. A ciência proclama pela emancipação dos filósofos de privadas. Para mim, deveria ser obrigatório a ida ao banheiro pelo menos três vezes ao dia, tudo pelo progresso e bem da ciência. E se me perdoarem o gracejo, digo mais, a filosofia no banheiro evitaria o acúmulo de merda, literalmente e figuradamente.
Agora, sem mais delongas, levanto-me do vaso, limpo-me, dou descarga nos meus problemas e vejo-os irem por agua abaixo. Olho-me no espelho, sinto-me ligeiramente sábia, lavo minhas mãos, abro a porta e saio aliviada. Filosofei demais por hoje, já chega!
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