Estava entre as ferragens do carro junto com sua mãe e seu pai, balançou-os para ver se eles acordavam mas eles nem se mexeram, estavam frios, com certeza mortos, ela então começou a chorar, não podia se soltar porque estava presa e perdia muito sangue em um corte nas costas. Sentiu dificuldade para respirar, de repente desmaiou. Acordou no hospital, máscara de gás no rosto, um homem de branco lhe forçando o peito, olharam pra ela e sorriram, mas logo viu seus pais ao lado da maca, sorrindo para ela e lhe estendendo a mão, ela então sorriu e deu a mão a eles, e o rosto do homem de branco foi mudando e agora estava gritando "Rápido, estamos perdendo ela, vamos!", de repente tudo ficou negro.
Acordou de manhã com sua mãe gritando:
-Ei mocinha, temos escola hoje se esqueceu? Chegou tão cansada da viagem que nem estava se lembrando da escola não é? Fiz panqueca de queijo como você gosta!- ela apalpou a si mesma assustada, tivera apenas um sonho ruim, ficou aliviada e sorriu de pensar em seu sonho que parecia tão real.
Vestiu-se rápido desceu, comeu e foi saindo, encontrou seu melhor amigo e vizinho de infância ao lado da sua casa, ele sorriu e eles foram a escola. Foi um dia normal como qualquer outro dia, a escola chata, com seus amigos desanimados e um mundo que a convidava a visitar. Voltou para a casa no fim da aula, quando notou na mesa sua avó, seus olhos lhe esbugalharam, ficou sem voz, sem ar.
-O que foi filha? Não vai falar com a sua avó?
-Sua benção vovó! Desculpem, mas vou subir para o meu quarto, estou sem fome.
Subiu as escadas depressa, sua avó havia morrido há dois anos, como poderia estar lá? Sentiu uma dor nas costas, tirou a blusa e viu a cicatriz de um corte, parecia ter anos, mas não se lembrava de como ou quando foi feito. A cabeça estava confusa. Alguém bateu na porta:
-Filha! Como você está?
-Estou bem mãe, pode deixar!
-Filha abre a porta para mim?
-Mãe, é que eu estou trocando de roupa.
-Filha abre a porta!- disse sua mãe com uma voz alterada.
-Abre a porta para vovó te ver, abre!
-Não, agora mesmo eu desço!
Houve um silêncio e logo depois um estampido, haviam quebrado a porta e sua família toda estava ali na porta, com um jeito ameaçador.
-Dúvidas querida? Vem aqui que mamãe te explicará tudo.
-Saia de perto de mim!
-Porque isso? Mamãe te ama!
-Você não é a minha mãe, e eu nem sei quem sou.
-Você é a menininha da vovó!
-Você está morta! Não me chame assim!- sua avó já mudara a figura do rosto.
-Entenda, esta é a ordem natural das coisas. Não nos trate assim nós lhe demos a vida, conviverás conosco por muito tempo!
-Prefiro morrer a viver com vocês, vocês estão mortos, vocês não existem, saiam daqui!-soltou um grito ensurdecedor.
-Mas você já está morta querida, morrer de novo para que? A cada vida um novo ciclo começa, uma nova dimensão a você é dada, então apenas viva a sua morte.- a velha sorriu ironicamente.
Ela os olhou diante do reflexo do espelho, não havia reflexo, eles não eram nada, absolutamente nada. Ela sem uma gota de lágrimas nos olhos, pareciam estar secos, ajoelhou-se no chão, e naquele instante estava ela numa sala escura, sem paredes, apenas escuridão, era aquela sua vida, se é que posso chamar isso de vida.Gritou, gritou por horas seguidas a espantar a dor.
Estava morta, fato, havia morrido no acidente o qual pensara ser apenas um sonho. Sozinha, Ela, a escuridão e a consciência de que depois da morte, realmente não havia nada, absolutamente nada!
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