quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Transitoriedade

Confesso que seria complexo, sem nexo e contexto descrever o ser, se o coração que nele bate, é infame, e eu não seria abstrata o bastante para atribuir-lhe os sonhos, os medos. Poderia então poder me chamar de Senhora Morte, impiedosa e cruel, por matar-lhes os sentimentos humanos, ao pensar que em um papel eu pudesse descrever tal natureza infame que és. E então pudera perguntar:
-Senhora morte, se já mataste meu peito, porque não matastes minha mente e levastes meu corpo ao mais profundo calor da terra?
Eu dissera então com a boca seca, lábios púrpura, morte sem vida:
-E já não vede que estás onde queria? Matei tua vida, teu ser, tua essência, sobraste com a matéria, com a carne, e apodrecerá aqui, diante terra, morros e seres, mostrará que viestes para o coração, para ser. Então os seres saberão que mais que mente e de razão, um ser é feito! Pensarás que sou má, impiedosa por te deixar viver morto, sem peito, sem coração, sem sentimentos, pura e pecadora carne movimentando-se como larvas; mas ei que lhe digo homem, não sou má, a morte veio para abrir-lhes os olhos dessa vossa transitoriedade!
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