Naquela casa de classe média em um bairro nobre de Nova York o silêncio dos moradores era mortal, os olhares medrosos e sofridos corriam cada canto da casa correndo de olhos conhecidos. Alguém bate na porta, todos se olham a fim de saber qual irá atender, a mãe da família vem da cozinha a correr e abre a porta num estampido:
- Sou Detetive do departamento de desaparecidos de Nova York... - antes que a mulher pudesse terminar a frase a mãe já empurrou-a pra dentro da casa.
- Por favor sente-se! - disse a mulher apavorada.
- Conte-me senhora Mashston o que houve antes do desaparecimento da criança!
- Eu fiz tudo que costumo fazer, as nove dei-lhe a mamadeira e o pus para dormir, Sam chorou um pouco e eu o observei da porta do quarto, pois ele sempre faz manha para não dormir no berço e sim comigo e com meu marido. Quando ele adormeceu eu também fui dormir, meu marido assistia ao final do campeonato de futebol e os meus outros dois filhos estavam no quarto deles, Benjamin estava dormindo e Jason jogava vídeo-game. - a Detetive percorreu os olhos nos moradores da casa, mas parou os olhos em Benjamin, algo naquele rapaz lhe chamou a atenção, mas logo voltou seus olhos para a mulher novamente - Logo, todos foram dormir e as uma da manha eu acordei e Sam não estava no berço. E o resto foi um alvoroço, por favor Detetive traga meu filho de volta.
- Farei o possível e o impossível, minha senhora! - ela olhou novamente para Benjamin que tinha uns 17 anos, fruto de um abuso sexual sofrido pela mãe quando ainda era adolescente, cara de garoto problemático, não gostava de enfrentar os olhos das pessoas, os dedos de suas mãos e dentes eram amarelados, de certo ele fumava algo mais caseiro o qual ele mesmo fabricava, por isso a presença de fumo nas mãos e seu jeito de se mexer denunciava uma brutalidade e impaciência quanto a tudo. - Por favor, deixe-me olhar a casa e procurar pistas sobre o desaparecimento?
- Claro, claro! - a mulher choramingando respondeu-a e abraçou o marido, enquanto a Detetive subia as escadas.
Ela foi até o quarto do bebê, a porta estava apenas cerrada, a janela aberta e com as cortinas voando, típica cena de sequestro, de fora as primeiras quatro telhas estavam desalinhadas, ela esticou as mãos até a ultima telha desalinhada, sorriu. Voltou-se para o berço, o lençol não estava muito bagunçado e todos os pertences quanto a coberta e bolsa de emergência haviam sido levadas, ela então franziu a testa e assim continuou, parecia que ela começava a ter certeza da desconfiança. Quando saía do quarto, notou cinzas no chão e então correu ao quarto de Benjamin.
Vasculhou gavetas, mas não achou o que queria, de repente olhou parou, respirou e olhou para o teto. Havia um símbolo lá de uma seita satânica praticada por adolescentes de classe média e alta, ela então virou as costas e desceu as escadas:
- Vou contatar meus superiores sobre as pistas e já venho com respostas! - ela disse apressada para a mãe que a olhava esperançosa em pé na escada, a Detetive seguiu até Benjamin, farejou no ar um cheiro bem conhecido e sussurrou:
-Sabe que cheiro é este Ben? - ele acenou com a cabeça que não sabia - é cheiro de culpa! - ele arregalou os olhos e subiu para o seu quarto.
A Detetive saiu da casa, pegou o seu carro e partiu com pressa. Olhou as horas, eram 2:45, ela tinha 15 minutos para chegar até o local da seita.
Há uns seis minutos de lá, numa casa de madeira velha e podre, a Detetive parou o carro, deixou a arma no carro e correu para a casa. Rodeou-a e logo avistou uma pequena janela do porão, do lado havia uma entrada térrea a qual ela arrebentou o cadeado e adentrou.
O porão era enorme e tinha vários cômodos, todos de madeira podre e cheiro de animais mortos, ela ouviu um barulho estranho em um dos cômodos e quando ia chegando viu que dentro de uma enorme cuia de barro estava o pequeno Sam, ao redor dele várias pessoas com longas vestimentas pretas e aveludadas, uma mulher a qual estava mais perto do bebê segurava uma adaga que estava alinhada ao coração de Sam, esperando apenas apenas bater as três horas para que o sacrifício fosse feito, de certo era ela a chefe do grupo.
Quando a Detetive adentrou ao local, ela fez questão de bater com a mão na parede para chamar a atenção de todos, eles a olharam e ela sorriu. Ela foi passando entre eles, e todos iam caindo no chão, seus corpos ficavam azuis e secos instantaneamente, mas o sorriso da Detetive não saía de seu rosto. Faltava poucos segundos para três horas da madrugada, hora do demônio, hora de sacrifícios a ele. A Detetive encarou a mulher que tinha nos seus olhos uma crueldade reconhecida por qualquer um, aos poucos aquele olhar foi desfalecendo e ela virou a adaga para si mesma, apunhalando-se e agonizando no chão mesmo.
Ela pegou a criança no colo que abria um largo sorriso para ela, virou-se e quando saía daquele cômodo, deu de cara com um homem de blusa vermelha, olhos azuis e cabelos louros e bem curtos, ele a olhou e disse:
- Não é a primeira vez que você estraga os planos dele!
- E não vai ser a última, acredite!
- Só quero lhe avisar, ele prepara surpresas pra você.
- Pois diga a ele que tente ao menos, pois até hoje nenhum dos seus filhos foram capazes de me causar um sequer arranhão, incompetentes!
- Não subestime-o, ele te ama como se fosse seu filho, mas ele te odeia como se você fosse o pior inimigo dele!
- Não me subestime, Daemon, diga a ele que engula este amor, dele só quero ódio e rancor! - ela sorriu ironicamente.
O rosto do rapaz desfigurou-se e gritou com ela, não era uma voz apenas, eram várias vozes a gritar com ela, a fim de assustá-la. Dela então abriu-se um par de asas cinzentas que fez o homem desaparecer.
A Detetive então dirigiu pela cidade e deixou o bebê na porta da delegacia, e em alguns minutos a policia chegava na casa da família com o pequeno Sam nos braços.
- Senhora, queríamos procurar pistas na sua casa sobre o desaparecimento, de certo quem o sequestrou arrependeu-se e devolveu a criança.
- Mas já veio uma Detetive aqui e colheu as provas.
- A senhora deve estar enganada, houve uma queda da linha da polícia e só pudemos recuperar sua chamada há alguns minutos. - o policial respondeu e a mulher ficou pensativa e não sabia o que dizer.
- Claro que podem, venham comigo! - eles subiram a escada e quando passavam pelo quarto de Benjamin notaram que ele estava deitado na cama de bruços, a mãe foi até ele para acordá-lo e para seu desesperado ele estava sem nenhuma gota de sangue e seu corpo levemente azulado. Pelo chão do quarto haviam penas cinzentas e no criado-mudo uma carta de confissão, onde Ben assumia que havia dado o seu irmão para a seita para que fosse aceito por ela, nela continham todos os detalhes de como conseguiu sair da casa com o bebê e da localização do templo onde iriam sacrificá-lo.
Dias depois no enterro do rapaz, a dúvida era presente em cada rosto dos participantes: Quem ou o que era aquela detetive? Quem matou a todos e como os matou? Quem levou a criança até a delegacia? Ninguém sabia a não ser ela mesma.
Ao final do enterro quando todos iam embora, uma silhueta feminina apareceu por detrás de um túmulo e avistou Sam que abriu um largo sorriso para sua salvadora, a família entrou no carro e foi embora. A mulher então, agachou-se sobre o túmulo do rapaz e começou a falar:
- Sabe Ben, somos parecidos, temos histórias iguais, ambos nascemos de um erro, temos pais os quais não há nada de se orgulhar, somos filhos pródigos isso é fato. O que nos difere, é que eu escolhi o caminho certo, você não!
Ela se levantou e pôs-se a andar, mas logo desapareceu dentre a neblina daquela manha nublada e fria.
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