quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Subestimadores

Vivia sozinha a dois anos desde que seus pais morreram, casa grande e nove gatos que se espalhavam confortavelmente pela casa. Era uma madrugada de sexta-feira dia de folga do trabalho, levantou depois de um pesadelo o qual não se lembrava do que era, mas sabia que foi um sonho ruim pois estava tomada por um medo interno e depois daquilo não conseguiu dormir mais. Desceu as escadas da casa ainda de pijama, foi a cozinha e pôs a água do café ferver, foi até a porta da sala abriu-a e pegou o jornal. Entrou dentro de casa e em alguns minutos o café estava pronto, pegou uma xícara sentou no sofá e pôs-se a ler as notícias.
Alguém bateu na porta, ela levantou e foi atender. Não havia ninguém, fechou a porta. Logo que virou as costas bateram na porta novamente. Um medo tomou conta do corpo dela, pôs a mão na maçaneta devagar e a abriu, um vento gélido tomou conta da casa, parecia que alguém havia entrado lá só que ela não conseguia ver. 
Ela escutou um barulho no seu quarto, então subiu as escadas correndo pra ver o que era apesar do medo intenso quando chegou no corredor que dava aos seus quartos ela viu um homem de cabelos pretos e roupa preta, a pele dele era branca pálida, os olhos dele eram azuis vivos como os dela, pareciam brilhar. Ele sorriu pra ela e as luzes da casa se apagaram, ela ficou sem ar de tanto medo, algo parecia passar por ela a todo momento e a cada vez que passava acabava cortando-a como se tivesse uma lâmina fina. 
Ela gritava de dor, porque aquilo a dilacerava então ela virava pra todos os cantos a fim de achar aquele homem e procurar um lugar pra se esconder, mas o escuro não a deixava. Ela se virou de costas e deu de cara com ele, os olhos dele brilhavam no escuro como se fosse um gato, ele pegou em seu rosto e cheirou-a de um modo libidinoso, passou a mão em seus cabelos e os cheirou também. 
O rosto dela então mudara de um face de horror para uma face irônica, ela então beijou o homem e o rosto dele começara a ficar negro, as veias de seu corpo ficavam negras azuladas e os olhos dele enegreceram. Ela então o largou e as luzes voltaram a funcionar e o corpo do homem desfalecia na frente dela, secava e se tornava apenas pó.
Ela limpou os lábios e resmungou baixinho "Subestimadores"!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Quando o medo resolve brincar

Eram 2:45 da manhã, o telefone da cabeceira da cama tocou, era o padre Cornelius que mais uma vez me pedia socorro porque Sarius o seminarista havia dado outra crise esquizofrênica, ele jurava que um homem o perseguia pela igreja. Sem mais porquês, peguei as chaves do carro e saí, o padre morava aos fundos da igreja de Santa Lorena e na porta havia uma cruz da mesma. Abri-a e entrei.
Os bancos de madeira estavam bem alinhados, o chão de taco bem polido faziam com que meus sapatos fizessem um barulho irritante. Logo levantei meus olhos do chão e me deparei com o horror, desde pequena cultivei um medo estranho, o medo de imagens sacras. Anjos, cristos, deuses, santos e santas, todos eles me remetem a um estado de pânico, sinto-me perseguida, abafada, encurralada pelo divino.
Naquele instante no altar da igreja uma enorme imagem de Cristo crucificado, no teto haviam anjos, querubins  e arcanjos voando pintados , nas laterais os vitrais mostravam a vida de Jesus até a sua Paixão.
Como louca corri pela igreja e acabei caindo de joelhos em frente ao Cristo, ele como se olhando para mim soltou uma lágrima mas eu vendo aquilo também chorei, chorei pelo medo absurdo que sentia. Me arrastei até a porta dos fundos, esperei que me recuperasse, consegui forças e me levantei, enxuguei as lágrimas e fui ver Sarius.
Olhei-o no canto do quarto, estava tão assustado mas logo abriu um sorriso ao me ver:
-Calma Sarius, ele já foi!
-Você mandou-o ir embora?
-Não, na verdade, acho que ele cansou de brincar com nós dois!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Não durma menina!

Chegou do trabalho cansada, trabalhava só meio período e estudava outro, mas aquilo estava lhe matando. Aproveitando as férias e a ausência da escola, deitou-se na cama dos pais para brincar com o gato, entre mimos ao gatinho ela acabou dormindo naquela cama e com a janela aberta e um sol escaldante brilhava lá fora.
Sonhou algo estranho, não entendia muito bem o que era, era uma sucessão de fatos executados rapidamente, como se fosse uma visão de várias coisas as quais passavam tão rápidas que mal podia definir o que estava acontecendo.
Até que aquela cena estranha e rápida ficou mais lenta, agora ela se via no próprio quarto dos pais, via ela mesma deitada no cama e com as mesmas roupas em que havia ido dormir. Sentiu um queimor no rosto e uma sombra negra vinha pela porta e agora se encontrava do lado do corpo dela adormecido. Apavorada ao ver aquilo ela se encolheu na parede com um medo absurdo que tomava conta do corpo dela. A sombra então pegou no ombro do seu corpo adormecido e a balançou tentando acordar, de repente ela sumiu e acordou já em seu corpo. De certo não se lembrava do sonho.
Notou que os raios de sol haviam atravessado a janela e estavam em seu rosto lhe queimando a pele, levantou-se sonolenta e foi até a janela para fechá-la e voltar a dormir. Voltou a cama depois da janela fechada e quando fechou os olhos e já ia cair em sono profundo a janela do quarto de seus pais abriu-se num estampido feroz. Ela sentou-se num pulo e olhou para a janela escancarada, olhou para o lado e um varal que tinha no quarto balançava de um lado pro outro parecendo um relogio de pêndulo. Ela pôs a mão na cabeça e lembrou-se do que havia acontecido e um medo obsoleto tomou conta dela novamente, se levantou correndo e abraçou o namorado que vinha pela porta pois havia sentido que tinha algo de errado. O homem então abriu os olhos em meio ao abraço e notou que uma sombra observava os dois da porta do quarto, ele voltou a fechar os olhos, fez uma força na cabeça que até sua testa franziu e a sombra se desfazera.

Metrô

Eram três da manhã e aquela moça estranha entrou dentro do metrô quase vazio e sentou-se afastada de todos. Pegou então uma foto do bolso, bem desbotada e pôs-se a olhar ela, era um rapaz bonito de cabelo castanhos e olhos pretos, ela deu um leve sorriso e quando ia guardando um homem de casaco preto sentou-se na sua frente assustando-a.
Era um homem estranho, branco pálido, sem barba, nariz fino, olhos castanhos e cabelos pretos cobertos por uma toca. Ele a olhou de um modo estranho, mas ela manteve a calma, olhou nos olhos dele e de repente eles já não eram castanhos, mas estavam brancos, ela então não se conteve e encolheu-se mais ainda no assento, o homem então se levantou e foi em direção a ela. Num pulo ela se levantou e saiu correndo por entre vagões, parecia que ninguém via o que estava acontecendo, apenas ela, e isso era ainda mais desesperador, pois ninguém poderia ajudar-lhe. Enquanto corre, ela olhou para trás e viu que do homem saía duas asas negras, era uma cena chocante de se ver. Ela correu desesperada, mas aconteceu o que já era esperado, ela parou e se deu conta de que estava no último vagão, e que não tinha saídas. Olhou para trás e viu o homem, cada vez mais desfigurado, cada vez mais assustador, agora dele saía uma pequena fumaça de um odor horrível, e parecia que a roupa dele ia queimando e onde ele tocava parecia derreter.
Ele se aproximando dela deu-lhe uma pancada forte no peito e ela bateu de costas na ultima porta do trem, abriu os olhos com dificuldade e viu que ele se aproximava de novo, ele então ergueu a mão e parecia que o corpo dela obedecia aos comandos dele, e ela então ficou suspensa nesta porta e e então virou-se de cabeça para baixo formando uma cruz invertida. Ela chorava sem cessar e perguntou:
- O que quer de mim? Me deixe!
-Quero te salvar de uma ilusão. Apenas isso. Aceita?- ela não parava de chorar e balançava a cabeça num gesto de negação. Ele então mexeu com a mão e um corte nascera no abdômen da mulher fazendo-a chorar e sangrar muito e ele completou gritando- Você aceita?
-Sim! - disse ela em meio ao choro prevendo a morte se acaso não concordasse.
-Que bom! Sabes que não é este o seu destino, nem o dele!- a foto do homem caiu no chão e foi borrado por uma gota de sangue que caía dela. - Eis que estou aqui, salvar-te-ei dessa ilusão, terás de sofrer de novo, aceita o sofrimento ou deseja voltar?
-Eu vou voltar! - e ela sorriu,, despregando-se da parede e caindo no chão, levantou-se sem problemas do chão. O homem de asas negras sem entender o que aquela mulher fazia começou a ficar alterado.
-O que faz? Volte ao que estava! Eu estou ordenando!
-Cale-se verme! Achas que eu iria ser idiota, achas que não sabia que logo quando eu estivesse "menos protegida" vocês viriam atrás de mim? Claro que sabia,  claro que sabia que um de vocês viria, só estava esperando a hora certa para mostrar-lhes do que sou capaz. Mas vocês me surpreenderam, pensei que iam me mandar alguém mais forte, vejo que me subestimam. Pois darei motivos para verem que não sou uma qualquer caída pela terra.
Ela pegou no pescoço do homem o suspendendo no ar, e onde a mão dela pegou ele queimava em fogo. O toque dela o queimava vivo, e em pouco segundos o corpo dele foi consumido em chamas. Ela sorriu, pegou a foto do homem e pôs novamente no bolso.
Subiu num banco, pendurou-se nos ferros e abriu uma janela que fica no teto para sair, entrou por aquela janela e já no teto do trem ela pulou nos trilhos.
Houve ainda quem dissesse ter visto um anjo de asas brancas e bem brilhante vagando pelos trilhos, tinha aparência de mulher e tinha um papel na mão que de minuto em minuto ela olhava.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Enquanto o fim não chega

Sentados ao cume de um morro, numa pedra grande e de bons olhos, estavam dois anjos. Um anjo de forma masculina, de ombros largos, olhos pretos e roupa encardida. Ao lado dele, estava um anjo em forma de mulher, apesar da Bíblia nada dizer sobre a existência ou não de anjos femininos, lá estava um dos olhos de Deus em forma de mulher a observar o mundo e os seres que habitavam ele.
-Houve tempos melhores!- disse o anjo homem a outro anjo que obtinha a forma de uma mulher.
-Tudo era melhor do que o que está acontecendo agora!
-Tens razão! A terra já não é mais aquela!
-Desde os tempos de pecado a terra vem mudando, caminhando para o seu fim, pobre daquele que não percebera quão mais rápidos as horas correm, quão mais sólida está ficando as bases da perdição humana.
-Mas não tens esperança?
-Tenho esperança no Pai, nos humanos não. Quantas vezes Ele disse aos humanos para terem cuidado? Quantos profetas cairão por terra até que os humanos dêem conta do que esta por vir se este caminho continuarem a trilhar?
-Tenhas calma e não revoltais, sabes que o Pai os ama.- disse o anjo colocando a mão sobre o ombro delicado de mulher.
-Eu sei, mas o Pai criara um ser tão inteligente e tão ignorante ao mesmo tempo. Talvez seja o pecado que lhes fizera assim...
-O Pai sabe o que faz, não devemos discutir sobre isso.
-Tens razão, - ela se levantou e olhou abaixo do morro, havia corpos e guerra, havia rios de sangue, havia uma terra seca, havia corvos a voar, anjos negros a açoitar pessoas e outras series de atrocidades apocalípticas-  separai o joio do trigo, limpai a terra do mal, limpai a água do sangue, matai por Deus, revivei por Deus, ressuscitai aos que lutam em nome Dele. Tomareis o norte a casa dos  que achavam-se donos do poder que é do Pai, tomarei eu o sul, terra donde surgiste a revolução. Vá e ensine o homem ferir aos caídos, ensine-os a calcular o número do inimigo para que não se alarmem ao surgir de falsas bestas. Calai a boca dos falsos profetas e falsos messias, ensine ao homem apurar os ouvidos para que ouçam apenas o Pai. Fazei que levante da terra seca, o alimento dos que são fiéis ao Pai, fazei que o sangue derramado por terra vire água pura a saciar a sede daquele que o segue. Fazei do homem bom o seu discípulo, que ele carregue no ombro a cruz de ser fiel. Derrubaras aquele que ergue a espada para a cruz, que blasfema, que queima o templo, que senta no trono a não ser Deus. Ensinará ao homem o segredo da fé, ensinai a ele derrubar o inimigo com uma prece e a negar a Lucifer o poder da crença humana. Assim, como os humanos lhe ensinaram o dom de amar, eis de ensiná-los a sobreviver e a lutar contra o Traidor. Vá, partir-ei agora! Fazei o que Deus lhe pede e salvei o mundo. Há de sermos agora os pastores, separaremos a ovelha negra da ovelha do Senhor, salveis a ovelha perdida e lutais contra ladrões e saltadores. Faça-se em mim a vontade do Pai.
Os Anjos então olharam-se nos olhos, aproximaram-se um do outro e se beijaram. Ali estavam os dois Anjos do Senhor encarregados de ensinar ao homem o poder da Fé, e estava ali o homem a ensinar aos Anjos o poder do Amor.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Enviada Dele

Ela estava parada na esquina inquieta, e dois policiais também estavam lá de patrulha, todos olhavam para os lados assustados, pareciam que os três esperavam o mesmo alguém. Ao fundo da rua, algo vinha surgindo, o sol  estalante daquela tarde fazia subir do chão aquele mormaço. Lá vinha um homem louro, de olhos claros, vestia um blusa vermelha e uma calça jeans.
A mulher entrou dentro de um carro vermelho, escondeu-se pendurando ao teto do carro. Neste meio tempo, o homem alcançava os policiais e os trucidava sem o menor arrependimento e o sangue manchava a rua. A mulher então levantou sua cabeça no teto solar do carro que acabava de acionar, e nada viu. Sentiu-se aliviada.
Desceu do carro, abaixou a cabeça e quando levantou-a novamente o homem estava perante ela, o mesmo que havia trucidado os policiais. A cara de assustada deu lugar a cara de uma mulher decidida. Ele a perguntou:
-O que faz aqui?
-Vim lhe adorar!- disse ela dando um beijo nele.
Ele então pegou em seu ombro e a conduziu a um galpão, lá centenas de pessoas estavam em frente ao palco, e ao ver o homem, elas deram caminho para que passassem rumo ao palco. Assim como ela, eles estavam lá para adora-lo; mas ele ainda não sabia que aquela mulher guardava dentro de si, algo muito diferente do que ele poderia oferecer ao mundo: PAZ.
E que mesmo que necessita-se jogar sujo como os demais seres inferiores ela o faria, pela PAZ do mundo. E morreria ali, se Deus lhe ordenasse que morresse. Por enquanto, mentir, era o que deveria, enganar era o que planejava, até que o seu objetivo fosse alcançado.
Olhou aquelas pessoas que não tinham brilho nos olhos, não tinham mas Deus, na testa: algo gravado, mas não podia identificar. O ser dentro daquela mulher queimava-lhe diante aquilo, mas devia esperar. Os planos de Deus ainda não tinham se concretizados, e ela servia a Ele, por Ele e para Ele.