Eram 2:45 da manhã, o telefone da cabeceira da cama tocou, era o padre Cornelius que mais uma vez me pedia socorro porque Sarius o seminarista havia dado outra crise esquizofrênica, ele jurava que um homem o perseguia pela igreja. Sem mais porquês, peguei as chaves do carro e saí, o padre morava aos fundos da igreja de Santa Lorena e na porta havia uma cruz da mesma. Abri-a e entrei.
Os bancos de madeira estavam bem alinhados, o chão de taco bem polido faziam com que meus sapatos fizessem um barulho irritante. Logo levantei meus olhos do chão e me deparei com o horror, desde pequena cultivei um medo estranho, o medo de imagens sacras. Anjos, cristos, deuses, santos e santas, todos eles me remetem a um estado de pânico, sinto-me perseguida, abafada, encurralada pelo divino.
Naquele instante no altar da igreja uma enorme imagem de Cristo crucificado, no teto haviam anjos, querubins e arcanjos voando pintados , nas laterais os vitrais mostravam a vida de Jesus até a sua Paixão.
Como louca corri pela igreja e acabei caindo de joelhos em frente ao Cristo, ele como se olhando para mim soltou uma lágrima mas eu vendo aquilo também chorei, chorei pelo medo absurdo que sentia. Me arrastei até a porta dos fundos, esperei que me recuperasse, consegui forças e me levantei, enxuguei as lágrimas e fui ver Sarius.
Olhei-o no canto do quarto, estava tão assustado mas logo abriu um sorriso ao me ver:
-Calma Sarius, ele já foi!
-Você mandou-o ir embora?
-Não, na verdade, acho que ele cansou de brincar com nós dois!
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